Habitat para a Humanidade Brasil e Visão Mundial lançam campanha de arrecadação para beneficiar 18 mil famílias afetadas pelas enchentes na Bahia e em Minas Gerais
O rastro de destruição causado pelas enchentes no final de 2021, na Bahia e em Minas Gerais, deixou 551 municípios em estado de emergência e afetou a vida de mais de 900 mil pessoas. Após mais de quatro meses dos desastres, milhares de famílias continuam lutando para se reerguer e retomar suas rotinas em meio aos estragos causados pelas fortes chuvas. Diante desse cenário, as organizações Habitat para a Humanidade Brasil e Visão Mundial se uniram para promover melhorias habitacionais nas residências atingidas e, assim, auxiliar na recuperação e reconstrução de comunidades em ambos os estados. O projeto acontecerá após a arrecadação de doações de parceiros corporativos financiadores, aliados locais e doadores individuais. A meta estabelecida, para cumprir todas as etapas planejadas, é de R$7,6 milhões. Com este valor, mais de 18 mil vítimas serão atendidas durante a execução do programa.
Dona Maria, moradora da comunidade rural Batuque, em Vitória da Conquista, na Bahia, conta sobre os estragos causados pelas enchentes em sua moradia – o que corrobora a importância de ações emergenciais, e permanentes, para amparar e proteger essas famílias. “Eu não sabia que a água ia chegar até onde chegou. Quando eu chamei meu marido para escorrer, o fundo da casa já estava cheio e eu saí pedindo socorro. A água chegou em um segundo – entrou pela cozinha, veio para a sala, entrou dentro dos quartos, escorreu para a varanda e depois para a rua, e foi levando tudo o que eu tinha”, disse.
Em busca de parceiros corporativos que possam viabilizar a realização do programa, a atuação conjunta das organizações se propõe a oferecer assistência a partir de reformas estruturais nas habitações afetadas e ações de incidência política, além de atividades direcionadas para o apoio a crianças e adolescentes vulneráveis e, também, pensando na segurança alimentar e recuperação econômica das famílias. Uma outra ação que está prevista no projeto visa à proteção de quatro mil crianças, adolescentes e jovens por meio de práticas como a capacitação de profissionais do poder público, instituições parceiras e organizações religiosas no apoio psicossocial e manejo de estresse pós-traumático ao público-alvo. A garantia da segurança alimentar das famílias atingidas também é um dos alvos do programa junto a outras atividades que poderão impactar, positivamente, quatro mil beneficiários.
A reconstrução das vidas dessas famílias, no entanto, também precisa passar pela preocupação em oferecer subsídios para que elas possam ter uma recuperação econômica, pensando no presente e no futuro, de modo a conseguir sustentar as necessidades da casa a longo prazo. Para isso, uma das ideias do projeto é fomentar cursos voltados à construção civil e empreendedorismo e realizar oficinas sobre educação financeira, gestão da emoção e nano negócios, entre outros. A previsão para essa etapa do programa é de ajudar cerca de 400 pessoas.
A aplicação da maior parte do valor arrecadado será na reforma das moradias danificadas, com a meta de ajudar 1.200 mil pessoas com reformas e reparações.
A falta de políticas públicas destinadas às populações em vulnerabilidade é, também, uma questão que será debatida e cobrada durante o projeto. Para isso, há a previsão de promover incidências políticas junto aos governos locais para a recuperação da infraestrutura urbana, alocação de recursos para as comunidades atingidas e para a proteção dos habitantes em territórios de risco. Para Socorro Leite, diretora executiva da Habitat Brasil, “a falta de planejamento urbano, de investimentos em programas de prevenção de risco e de uma assistência adequada diante de desastres dessa proporção, demonstra a omissão do poder público na proteção à vida e na garantia dos direitos básicos de uma população”.