1ª Virada da Habitação promove debates sobre moradia social em 13 cidades
Enquanto o país convive com um déficit habitacional de seis milhões de moradias, em 2021 os programas habitacionais do Governo Federal sofreram um corte orçamentário de 98% em relação aos anos anteriores. A redução afeta principalmente habitações para população de baixa renda. É em meio a essa conjuntura que surge a 1ª Virada da Habitação, encontro realizado pela Articulação Colabora HabitAção, com apoio da Habitat para a Humanidade Brasil, que irá reunir, no próximo dia 6, coletivos, movimentos sociais, ongs, negócios de impacto e representantes da sociedade e do poder público para discutir os desafios e definir os próximos passos para o setor.
São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Pelotas, Ribeirão Preto, Vitória, Itu, Maringá, Juiz de Fora, Recife e Fortaleza são as cidades que irão promover programações da Virada da Habitação, seguindo as características e demandas de cada região. A proposta é fazer com que o tema seja mais acessível para a população em geral para que, a partir de debates direcionados por organizações envolvidas com a temática, seja amplificada a importância de falar sobre moradia social.
De acordo com um levantamento da Fundação João Pinheiro, além do déficit habitacional, o país tem mais de 25 milhões de moradias precárias, o que significa milhões de famílias vivendo em condições de vulnerabilidade social. A situação ainda é agravada pela quantidade de ocupações, sistematicamente afetadas por ações de despejo. Segundo dados da última pesquisa da Campanha Despejo Zero, referente ao período pandêmico até maio de 2022, mais de 30 mil famílias foram removidas durante a pandemia da Covid-19 e há cerca de 570 mil pessoas ameaçadas de despejo no país.
“Habitar é morar, residir, mas também é sinônimo de pertencer, ocupar e povoar. Não se resume a ter um teto. É possibilitar que famílias vivam com dignidade, em ambientes saudáveis, seguros e confortáveis. É urgente falar sobre o direito à moradia, especialmente em um período marcado por inúmeros retrocessos no setor. A Virada da Habitação acontece, sobretudo, para alertar a todos sobre os impactos causados e como isso vem afetando milhões de famílias em todo o país e, também, para falarmos sobre o futuro. Qual o próximo passo para o setor de habitação social? Como podemos construir e cobrar novas e atuais políticas públicas habitacionais?”
Mário Vieira, diretor executivo da Habitat Brasil.
PROGRAMAÇÃO
Com debates, mutirões de limpeza e diversas atividades acontecendo, simultaneamente, em 13 cidades do país, a Virada da Habitação se propõe a descentralizar o debate, ao mesmo tempo em que unifica um ecossistema interessado em buscar soluções para a temática da habitação social.
Em São Paulo, estão confirmados nomes como o da baiana Carmen Silva, ex-moradora de rua e coordenadora do Movimento dos Sem Teto no Centro (MSTC) que, hoje, atua em defesa das pautas de habitação da cidade. Além disso, as organizações TETO Brasil, Ecolar e Construíde irão protagonizar um dos painéis do evento, e haverá debates a respeito da mão-de-obra feminina no setor da construção civil, aluguel social e sobre o direito à cidade. Nas demais cidades, também haverá mutirões de limpeza, intervenções artísticas, rodas de conversas temáticas e escutas com a sociedade civil, bem como abordagem a temas como experiências e desafios do setor, políticas urbanas e habitacionais, práticas da iniciativa pública na habitação de interesse social, entre outros.
Dênis Pacheco, gerente de Programas e Voluntariado da Habitat Brasil, explica a importância de realizar um evento nesses moldes. “Ocupar espaços que, normalmente, não falam sobre habitação social, é essencial para que possamos furar a bolha e nos aproximar de um público que também precisa participar dessa construção. O debate precisa ser, mais do que nunca, coletivo, amplo e acessível, e por isso estamos apostando na Virada da Habitação, respeitando as individualidades de cada cidade, mas focando em uma temática central”, disse.