“Como produzir uma arquitetura diferente?” Nós, um grupo de arquitetos de diferentes gerações, formados em anos distintos, que saíram das universidades com as mesmas inquietações a respeito da prática de arquitetura e com várias dúvidas sem resposta.
No ano de 2018, a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) ofertou o curso de especialização ASSESSORIA TÉCNICA PARA O HABITAT URBANO E RURAL, que permitiu que encontrássemos a nós mesmos e o propósito que nos uniu: fazer arquitetura de maneira colaborativa e sem hierarquia entre o saber técnico e o saber popular.
Durante o período da especialização tivemos a oportunidade de acompanhar a comunidade de Santa Quitéria, localizada em Bacabeira, município maranhense situado a aproximadamente 60 km de São Luís. O povoado passava por conflito de disputa de terra devido a processo de reintegração de posse – de área ocupada há aproximadamente 100 anos –, mobilizada por um suposto proprietário motivado pela forte especulação imobiliária no local em função da possibilidade de instalação de grandes empreendimentos industriais nas imediações – a Refinaria Premium I da Petrobrás. A área de disputa correspondia a 235 ha e na época era ocupada por cerca de 100 famílias oriundas de localidades vizinhas e de outros municípios do Estado.
Com o término da especialização as inquietações continuaram, porém dessa vez tínhamos certeza que nossos interesses estavam ainda mais alinhados, porém, nossos planos foram freados pela pandemia, e tivemos que criar formas para captar e divulgar o trabalho que buscávamos realizar junto a comunidades e grupos organizados da sociedade civil. Planejamos a criação de uma página no Instagram para nos apresentarmos e termos um espaço para falar sobre assessoria técnica, e fizemos, até certo tempo. Elaboramos uma carta de apresentação, que seria enviada a órgãos, comunidades, e funcionaria como nosso cartão visitas na busca e captação de demandas. Desenvolvemos uma cartilha explicando algumas das práticas que podem ser assessoradas pelo grupo NÓS, junto a comunidades, prefeituras, instituições e sociedade civil – organização e participação comunitária, plano de urbanização, palestras e oficinas, projeto e/ou construção de infraestrutura e equipamentos públicos, regularização fundiária, construção de novas unidades habitacionais e reforma ou ampliação de imóveis existentes – no âmbito da habitação e arquitetura e urbanismo.
Nossa primeira demanda foi a da comunidade do Maria Firmina II, localizada no município de Paço do Lumiar, região metropolitana de São Luís, que tinha como objetivo a elaboração do projeto da sede do Clube de Mães. O ponto de partida para este trabalho foi o desenho, feito a mão livre por Roberta, liderança do grupo, antes da primeira reunião com o NÓS.
A partir de então, uma série de encontros foram realizados na sede temporária do clube, uma casa cedida por um dos moradores. Após sucessivos debates, construção e modificações na planta por meio de metodologias que buscavam envolver o grupo, chegamos a um estado avançado do estudo preliminar, o que fundamentou a realização de um caderno de projetos.
E como demanda mais recente, temos o projeto do Catolé, que nasce a partir de um anseio individual, cujo objetivo é a criação de um complexo que atendesse a comunidade e grupos com diferentes áreas de atuação, em um terreno localizado na região Itaqui-Bacanga, na cidade de São Luís. A missão é reunir o corpo de bombeiros, dança do coco, comunidade e igreja em um espaço de múltiplos usos.
Essas experiências nos permitiram vivenciar a arquitetura de uma forma diferente do convencional - onde o produto nasce de forma unilateral e a troca de saberes é vertical -, para uma arquitetura social, pautada na horizontalidade dos saberes e trocas de experiências. Democratizar os espaços, participar das disputas sociais em prol da coletividade é que nos move.