Do sufoco ao trabalho voluntário

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Antes da reforma, Karina nos chamou com pressa, pedindo que entrássemos correndo para conhecer sua casa. Depois da reforma, isso mudou. Passamos, pelo menos, umas três vezes por sua casa e ela não nos deixou entrar. O motivo era simples e sincero: “só quero que vocês entrem, quando minha casinha estiver toda arrumada! Aí sim, farei um bolo e café para receber vocês”.

Até o dia do cafezinho chegar, passaram-se mais de 20 anos em que Karina de Oliveira Santos (38) e Geovani Nunes dos Santos (42) viveram pagando aluguel na comunidade de Heliópolis, zona sul de São Paulo. Aos 13 anos de idade, Karina mudou-se para a comunidade junto com sua mãe e seu irmão, após a separação dos pais. A falta de condições levou a família para Heliópolis, pois, na época, o aluguel era um dos mais baratos.

Com muito esforço, juntando um dinheirinho aqui e outro ali, Karina e Geovani começaram a construir seu lar em um espaço desocupado da comunidade. Era o sonho da casa própria começando a ser erguido. Mas novamente as contas apertaram. “Ficou muito complicado. A gente estava pagando aluguel, material da obra e pedreiro. Mesmo sem terminar a obra, nós nos mudamos, porque não conseguíamos mais continuar pagando o aluguel”, conta Karina. Com o dinheiro que economizaram, só foi possível terminar o acabamento do primeiro andar da casa. Os outros dois andares, que seriam o quarto da família e a lavanderia, ficaram sem acabamento, sem janelas nem portas.

Foram 3 anos usando apenas um cômodo da casa, que durante o dia era cozinha e sala para Karina e os dois filhos, Guilherme (11) e Arthur (5). Ao anoitecer, os móveis eram afastados e davam espaço para os colchões, onde a família inteira dormia junta. Mas, o pior ainda estava por vir. “A laje não estava terminada e bastou uma chuva forte para transformar a nossa casa em uma cachoeira. Perdemos tudo… os poucos móveis que a gente tinha”, conta. Abdicaram de mais algumas coisas e conseguiram contratar um pedreiro para terminar, de vez, a reforma na laje da casa. Mas o trabalho não foi bem feito. A água da chuva passou, então, a infiltrar nas paredes da moradia. “Quando chovia muito forte, gente enchia de pano as paredes para a água não ir para os colchões que estavam no chão, quando íamos dormir”, lembra Karina.

No início desse ano, Karina estava em sua casa quando ouviu sua vizinha conversando com a equipe da Habitat Brasil e foi se informar sobre o programa. “Foi então que tudo mudou!” Após o cadastro e algumas visitas, e com o apoio financeiro da Metlife Brasil, a família da Karina conseguiu realizar o sonho de ter um lugar para chamar de lar. A Habitat Brasil reformou a laje para que não infiltrasse mais água e terminou a reforma no segundo andar da casa, fazendo com que a família pudesse viver com mais conforto.

“Graças a esse projeto minha casa está desse jeito hoje. Eu amei tudo. A casa ficou linda, mas estava vazia. Todos os móveis tinham estragado com as chuvas. Aí consegui comprar esse armário para a cozinha com a ajuda da minha patroa. Mas depois que ele estava montado, a gente descobriu que não tinha nada pra por dentro (risos). Mas vamos conquistando isso aos poucos, né”.

O trabalho voluntário

A reforma da casa da Karina foi finalizada graças ao apoio dos voluntários e funcionários da Metlife Brasil, que passaram um dia inteiro colocando a mão na massa ao lado da família. “Achei ótima a ação com os voluntários. Todos que vieram estavam com muita força de vontade. E foi muito bom também para eles conhecerem nossa realidade. É um aprendizado e tanto. Tenho certeza que eles passam a dar mais valor pras coisas. Porque você só começa a enxergar o mundo de outras formar, quando vê algo diferente”, conta Karina.

Karina e Geovani agora querem colocar a mão na massa também e apoiar na reforma das casas de seus vizinhos. “Se ajudaram a gente, não custa nada a gente ajudar também. O que eu puder fazer, eu vou fazer. Porque eu tenho certeza que tem gente que está em uma situação muito pior do que eu estava”, finaliza.