Crônica requentada!

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Mais uma vez, começamos o dia com a notícia de um desabamento com feridos e mortos na cidade do Rio de Janeiro. No início desta semana, a cidade foi atingida por fortes chuvas que deixaram outros 10 mortos. Apesar da ampla cobertura jornalística, essas notícias parecem sempre “requentadas”, face a periodicidade com que fatos como estes ocorrem.

No caso específico de hoje, dois edifícios desabaram na comunidade da Muzema, no bairro do Itanhagá, zona oeste do Rio de Janeiro. Rapidamente, a prefeitura posicionou-se dizendo que tratava-se de obras irregulares, não autorizadas pelos órgão fiscalizadores, em área dominada por milícias, onde a fiscalização só entra com proteção policial (se é que entra alguma vez).

A verdade é precisamos parar de aceitar desculpas de políticos e gestores públicos incompetentes, que lutam para assumir cargos eletivos, porém quando ascendem a eles e se defrontam com problemas como estes, se limitam a fazer declarações sobre a excepcionalidade dos fatos, sem assumir responsabilidades ou tentar resolver a notória falência das estruturas que governam, seja no nível municipal ou estadual.

Se as construções são irregulares, por que não são interrompidas e seus responsáveis autuados? Se área é dominada por milícias, o que está sendo feito para que isso não ocorra? E o mais importante em casos como este: quando teremos políticas públicas de habitação realmente efetivas, que possibilitem famílias de baixa renda terem uma moradia digna e adequada, sem se submeterem a exploradores inescrupulosos, ou aceitarem viver em áreas inadequadas ou de risco, sem a devida infra estrutura e oferta dos serviços básicos providos pelo estado?

Esses problemas não são exclusividade do Rio de Janeiro e vão muito além dos pontos elencados acima, mas o acidente de hoje nos faz refletir muito sobre como tratamos a questões da moradia no Brasil. Depois de uma série de desculpas e (in)justificativas que ouviremos nos próximos dias, tudo se cala, até que o próximo infortúnio (previsível) aconteça. E então, como uma crônica requentada, ouviremos mais desculpas e (in)justificativas vãns.

Mário Vieira
Diretor Executivo da Habitat para a Humanidade Brasil