Ela olha através de olhos cansados e desconfiados. A vida nunca lhe foi fácil. Nunca recebeu as coisas de presente, nunca houve comodidade no seu dia a dia. As mãos que se estendiam em sua frente raramente eram de apoio. Em geral, eram de cobrança. Vivia de aluguel, precisava decidir entre prioridades: pagar o aluguel ou a comida? Viver para sustentar sozinha sua casa e sua filha sempre foi um desafio, ainda mais por ser mulher, negra, trabalhadora e viúva. Aprendeu a ler já tarde na vida, e até hoje não completou o 1º grau, mas sempre fez questão que sua filha fosse assídua na escola.
Enquanto muitos pais teriam colocado os filhos para trabalhar para ajudar no sustento da casa, esta mãe deu uma única obrigação à filha: estude para melhorar sua vida. E, para isso, fez bicos dos mais variados: já foi cozinheira, costureira e confeiteira. Já trabalhou em casa de família, já deixou de estar com sua filha para cuidar dos filhos dos outros. Trabalhou, poupou e, quando se aposentou, conseguiu comprar sua primeira casa própria, com ajuda da filha. Era um lugar só delas, mas era um lugar difícil de viver. O banheiro estava em situação crítica; as paredes tinham rachaduras e infiltrações; havia apenas uma janela; e o risco de choque elétrico ou incêndio era constante, já que a instalação era informal. Dinheiro para melhorar a casa elas não tinham, então o jeito era tentar viver da melhor forma possível naquela situação. Mas não era fácil. Por muitas vezes a família acordou no meio da noite com água de chuva vazando pelo telhado e paredes, correndo para tentar resguardar o que podiam dos móveis e eletrodomésticos.
E aí um dia apareceu uma oportunidade: um projeto que priorizava famílias chefiadas por mulheres e com crianças e adolescentes. Um projeto para melhorar a casa de pessoas vivendo em condições precárias, um projeto sem fins lucrativos, que financiava reformas como as que Dona Domingas precisava com subsídios possibilitados através de doações de parceiros. Dona Domingas se enquadrou. De braços abertos, acolheu o programa. Conversou com arquitetos, participou de todas as etapas. Hoje, aguarda ansiosa a finalização da sua reforma, que vai trazer mais segurança, saúde e conforto para sua família. A vida nunca foi fácil, mas dona Domingas também nunca sentiu um gosto tão bom quanto o da vitória merecida. Agora, espera ansiosa o que lhe vem pela frente.
Dona Domingas tem 70 anos de idade e é uma das 30 famílias beneficiadas pelo projeto O Futuro Começa em Casa, desenvolvido por Habitat Brasil na comunidade de Vila Esperança (Candeias/BA) em parceria com a Dow Brasil.